De idade e maturidade

Idade e maturidade não andam de mãos dadas como muitos podem imaginar. Elas chegam em épocas diferentes, para ficarem juntinhas como dois pares em um baile ou separadas como duas irmãs que há muito não se vêem.
A idade traz as rugas, os pés de galinha e todas aquelas doenças chatas das quais ouvíamos as avós reclamarem. Mas a idade nem sempre traz aquela sabedoria que vem do muito ver, do muito viver e do muito observar: a maturidade.
Vou lhes contar agora a estória de Sóphie. Sóphie era uma menina séria, trabalhadora, e até um pouco sisuda, de no máximo 20 anos, que trabalhava em uma chapelaria pequena pertencente ao seu falecido pai. Um dia, em uma rua escura, Sóphie é salva por um feiticeiro jovem e belo, de nome Hal. Hal é o objeto de desejo, porém, de uma bruxa muito feia e muito egoísta, que entra sem anunciar-se na chapelaria de Sóphie na calada da noite e a transforma em uma velhinha de 90 anos. Mas ser uma velhinha de 90 anos assim, de repente, não foi de todo ruim para Sóphie! Ela aprendeu coisas que com toda a seriedade da sua juventude já havia se esquecido. Ela entendeu que quando se é velho, não se tem mais nada a perder.
Ela entendeu que coragem para mudanças não é uma exclusividade juvenil. Tanto que Sóphie quebra seu encantamento sozinha, de um jeito muito, muito mágico que não vou contar agora pois iria estragar toda a graça da estória. Sóphie rejuvenescia ou envelhecia mais ainda de acordo com o seu humor. Se lembram de quando sua mãe falava que dazer cara feia só enche a testa de rugas e que sorrir tira os pés-de-galinha? Isso valia, e muito, para Sóphie!
Sabem, mais uma vez nossas mães estavam cetas. As pessoas mais jovens são as mais joviais, não importa a idade. Isso me faz lembrar de homens gentis, que mesmo adentrados em anos encantavam e cortejavam as mulheres com ardor ímpar, raríssimo na juventude. E de meninas que, como Sóphie, estão muito atarefadas com o aluguel a pagar, a lição de casa, o quarto para arrumar e as plantas para águar. Muitas vezes as pessoas mais velhas fazem birra, brigam por motivos infantis, como se ainda tivessem cinco aninhos incompletos! Outras vezes, vejo filhos olhando entediados para carrosséis, videgames e qualquer brinquedo, com a terrível opinião de que brincar é mera perda de tempo.
E mais uma vez olho ao redor, caçando estórias do dia-a-dia, do que vejo, vivo, e ouço. Maturidade é aquele menino que carrega a mãe pela mão quando sente que ela está cansada de tanto caminhar. Maturidade é aquele pai que consola a filha dando seu ombro para ela chorar. Maturidade é aquela velhinha que separa os feijões enquanto conta estórias bem baixinho para os netinhos. Maturidade não é madurez, pois madurez, pois madurez vem com a idade, enquanto a maturidade vem com sensibilidade e uma grande dose de observação.
Ora, idade são anos que passam, dias que se escondem no véu das noites, noites que somem no fogo do dia, manhãs, tardes e uma massa escura coalhada de estrelas. Idade é o que os segundos contam, é do que os minutos pesam, é o que de milésima em milésima parte de século acrescenta pedações às nossas vidas.
Idade é o que faz os seios das meninas crescerem, enrijescerem, entusmecerem, murcharem e caírem. Idade é o que faz a pele cobrir-se de acne, suavizar-se, amaciar, traçar-se e rachar. Idade é o que faz a vista embaçar, turvar-se, diminuir, até quase cegar. Idade é o que cansa os músculos, enfraquece os ossos e enche os pés de joanetes.
Mas idade não é apenas o físico. Como a mocinha transformada em anciã, idade tem muito a ver com a alma de cada um. É a idade da mente. Já ouvi muitas vezes pessoas que se confessavam pelo menos 10 anos mais jovens do que sua certidão de nascimento atestava. Por outro lado, conheci meninas e meninos muito mais responsáveis do que seus próprios pais.
Idade às vezes é confundida com maturidade de um jeito abusivamente estapafúrdio! E isso me lembra uma das afirmações mais diretas que me fizeram.
Crédito do texto: As Artimanhas Viciosas

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